O jornal O Interno completou 50 anos de história no desenvolvimento do cooperativismo, da agropecuária e da cultura do Rio Grande do Sul no dia 28 de outubro. É um marco importante para um jornal que forjou uma geração de jornalistas e que jogou o cooperativismo para um patamar importantíssimo. Durante a sua trajetória alongada por meio século, O Interno se reinventou muitas vezes. Surgido em outubro de 1974, o veículo surpreendeu o próprio presidente da República da quadra, general Ernesto Geisel, ao se ver gravado na toga do primeiro número do jornal, retratando-o em evento ocorrido poucas horas antes, em Carazinho.
Nesta era inicial, fixada na região produtora do interno riograndense abrangendo seis cooperativas mantenedoras de 13 municípios, o jornal estava muito próximo do seu leitor com quem seus repórteres e diretor se encontravam, diariamente, para uma conversa que trafegava no linguajar que verbaliza a cultura e os costumes do varão do campo, espelhado nas páginas da publicação semanal. Era adequadamente alcunhado de “a voz do produtor rústico, do cultor, do colono”. O jornal mostrava a evolução dos equipamentos e recursos para maior produtividade da lavoura e agradava.
A partir de 1981 com secção da própria equipe de Carazinho transferida para Porto Satisfeito, tapume de 300 quilômetros distante, o jornal aporta na segunda temporada, marcada pelo envolvimento de mais de 70 cooperativas agropecuárias, espalhadas por todo o RS, e reunidas na Federação das Cooperativas de Trigo e Soja (Fecotrigo). Era logo “o jornal do cooperativismo”. A repórter Leila Ribas Mertins, entretanto, continuou em Carazinho, uma vez que gavinha de relação permanente de O Interno com o interno, preservando o DNA da identidade primordial.
Revérbero dos acontecimentos políticos, sociais e econômicos de uma população farta do regime de exceção, o jornal registra a ânsia da sociedade por mudanças, defende francamente a redemocratização e posiciona-se ao lado do produtor rústico cooperado, efervescente em suas reivindicações setoriais específicas.
Testemunha da revelação das pessoas das lavouras, uma série de capas, publicadas no período em torno do maior ato de protesto rústico realizado no Brasil, em 2 de outubro de 1984, também foi capaz de surpreender outro presidente da República, o político social Tancredo Neves que, eleito, não governará, sucumbindo à uma doença mortífero. Em sua presença, “O Grito do Campo” ecoou em um estádio de futebol lotado, o Extremidade-Rio, estremecendo o país, e fortalecendo a postura política do jornal.
Constituinte Cooperativa
Nessa marcha redemocrática do país, a Constituinte Cooperativa, sucedânea da Epístola Magna brasileira de 1988, foi uma bandeira do cooperativismo que o jornal manteve erguida até consolidar-se a Lei Cooperativa. Outra mudança aconteceu a partir de 2008, quando O Interno foi editado pela Organização das Cooperativas do Estado do Rio Grande do Sul (Ocergs), entidade estadual que congrega as cooperativas de todos os ramos econômicos – e não mais estritamente da extensão agropecuária. Uma visão mais urbana é incorporada à risca editorial que assumiu o papel de porta voz da instituição, divulgando assuntos e ações do contexto da afiliadas de todos os segmentos econômicos e sociais.
Nessa versão impressa colorida e com papel de qualidade próprio de revista, o veículo circulou até 2015. Passou, logo, exclusivamente ao formato online. Renomeado uma vez que O Interno Cooperativo, o boletim – definido na moderna nomenclatura da web uma vez que newsletter – é enviado através de plataformas digitais, com notícias sobre o sistema cooperativo.
Evidentemente, essa capacidade de adaptar-se às novas situações surgidas das diferentes mantenedoras não é o único diferencial engrandecido do jornal que enfrentou, ainda, as novas regras da reforma ortográfica e a transformação tecnológica que impactou todo o sistema de elaboração jornalística e de produção gráfica, forçando-o a continuar reinventando-se sempre.
Para um dos primeiros repórteres e editores de O Interno, André Pereira, o jornal foi um laboratório de estágio imprescindível para dezenas de jornalistas. Ele trabalhou em Carazinho e em Porto Satisfeito. José Roberto Garcez, falecido no dia 20 de outubro, Pedro Osório, Carolina Bahia, Roberto Tomé, José Antônio Simch da Silva, Sergio Becker, Otacilio Grivot, Ayrton Kanitz, Carlos Wagner, Silvio Peter, Paulo Denis Pereira, Celso Bevilacqua, Moisés Mendes, Humberto Andreatta, além de muitos outros, mais os cartunistas Edgar Vasques, Santiago, Iotti, Moa, Bier, os fotógrafos Jacqueline Joner, Eneida Serrano, Luiz Abreu, Emilio Pedroso, foram alguns dos nomes que se destacam no O Interno.
Sempre com pautas inovadoras, criativas, buscava assuntos extraordinários para abordar e explorar sobre a vida do campo e de sua gente, coisas praticamente ignoradas pela grande mídia. Por isso mesmo, o jornal recebeu muitos prêmios de jornalismo, em texto, charges e ilustrações. E várias matérias saíram das suas páginas para o formato de livros uma vez que “Monges Barbudos – O Massacre do Fundão”, de Carlos Wagner e André Pereira.
Livro
Os 50 anos do jornal vão virar livro. As pesquisas já estão em curso. São difíceis. Há tapume de milénio edições arquivadas, mas nem sempre foram organizadas de modo eficiente. O trabalho está sendo feito por dois pioneiros do O Interno, Waldir Antonio Heck e André Pereira. Vários textos já foram produzidos, mas ainda não há uma data para o livro ser publicado. “Estamos avançando, o processo está em prenhez, mas vai trespassar”, garantiu Waldir em entrevista ao Brasil de Trajo RS.
O jornalista Waldir Antonio Heck, hoje com 85 anos, criou, em 1974, o jornal O Interno, familiarizado que era com o tema da agropecuária e do cooperativismo desde a puerícia. Rebento mais velho do alfaiate Adão Augusto Heck e da dona de lar Olina Heck, ele lembra que sempre ia para a roça com os avós paternos, que eram agricultores, em sua cidade natal, Tapera, região de Carazinho. “Esta é a origem que me guiou por quase toda vida, por isso, nunca consegui me desligar da cultura. Vira e mexe, na minha vida, voltava para o agro”, recorda ele.
Enfrentou tragédias pessoais, uma vez que a morte de três irmãos em diferentes circunstâncias, ele, já com 16 anos e estudando em Porto Satisfeito, decidiu voltar para terreno natal para dar espeque aos pais e a mana mais novidade, Rejane. Em Carazinho trabalhou em uma madeireira, mas já estava se sentindo inquieto por lá, logo, decidiu voltar a Porto Satisfeito, em 1957, para concluir os estudos. Três anos depois, começou a trabalhar no extinto Banco Industrial e Mercantil do Sul (Sulbanco), mesma quadra em que fez vestibular para Arquitetura. Uma vez que as demandas do banco exigiam muito dele, acabou prestando vestibular para Economia, que era mais fácil e, inclusive, passou em primeiro lugar.
Todavia, ainda não havia desistido da primeira opção, fez outro vestibular e, desta vez, passou em Arquitetura. Por qualquer tempo, foi levando os dois cursos, até que foi autenticado em uma novidade prova, desta vez, em um concurso público, por meio do qual atuou por sete anos na Secretaria da Instrução e Cultura do Rio Grande do Sul. Devido às exigências profissionais, trancou as duas faculdades. Qualquer tempo depois, voltou mais uma vez para Carazinho, agora, para trabalhar uma vez que professor e diretor-adjunto do escola estadual da cidade e em uma empresa de material de construção.
Paixão de uma vida
Casado há mais de 50 anos com a bancária aposentada Geni, tem três filhos: a arquiteta Márcia, a publicitária Raquel e o turismólogo e baterista da Filarmónica Tequila Baby, Rafael. Tem quatro netos, Antônio e Pedro, 10 e 7 anos, respectivamente, filhos da mais velha, e Vicente, de 4 anos, da Raquel, e o caçula, Gabriel, de 2 anos, rebento do Rafael. “Agora, com os netos, eu entendi o sentido da vida”, emociona-se.
Atualmente, os dias de folga são dedicados aos cuidados com o neto mais novo e à família. O tempo que sobra investe para ler alguma coisa, ir ao cinema com a esposa, escutar música e conversar com amigos.
Em 1969, criou a Dirton Publicidade, juntamente com o radialista Ailton Magalhães. Três anos depois, em uma parceria entre a empresa e a Publipan, de Panambi, fundou, em Carazinho, o Jornal da Produção, com a participação do jornalista Edemar Ruwer. Em outubro do mesmo ano, com o assassínio de Edemar, que era o repórter e editor da publicação, Waldir passou a reunir as funções de jornalista com a direção mercantil. Também apresentava programas radiofônicos, às 6h da manhã, sobre cooperativismo e a vida do campo.
O passo seguinte na curso foi gerar a Instauração da Produtividade com pessoas de cooperativas da região de Carazinho, iniciando suas atividades de “Notícia e Instrução Cooperativa”, com a produção do jornal semanal O Interno, em 28 de outubro de 1974. O primeiro réplica foi entregue ao presidente da República no dia da orifício solene da colheita do trigo.
Para Waldir, O Interno era um jornal intenso, posicionado em resguardo do varão do campo, do colono, do cultor familiar e do cooperativismo. Ele conta que o impresso chegou a circundar com tiragens de mais de 60 milénio exemplares em algumas ocasiões. “A distribuição era um tormento, mas as cooperativas espalhadas pelo Estado ajudavam e faziam assinaturas. Estimulávamos os assinantes com sorteios de tratores, máquinas agrícolas e outros equipamentos. Foram 1.440 edições ou tapume de 10 milhões de exemplares até 2014. Durante vários períodos, houve alterações na direção do jornal, tendo o seu fundador voltado ao comando várias vezes; antes do Sistema Ocergs/Sescoop assumir, modificar e, por término, fechar o jornal impresso.
Ou por outra, Waldir teve passagem pela Secretaria Estadual da Lavradio, uma vez que patrão de gabinete, diretor do Parque de Esteio e coordenador universal da feira agropecuária Expointer, sendo responsável por diversas inovações. Algumas delas foram a geração do Juízo dos Expositores (Gestão participativa) e parcerias administrativas com diversas entidades e empresas, que perduram até hoje. Também foi coordenador universal do Fórum Vernáculo da Soja durante 28 anos. Em 2004, foi convidado para ser diretor-sócio da Pilla Corretora de Valores, uma vez que representante do sócio controlador (Fecotrigo), onde ficou até a aposentadoria, em janeiro de 2017. “Foi uma volta à origem”, pontua.
Passados tantos anos, ele destaca uma vez que referências “inspiradoras” os “mestres” Mário Osório Marques, fundador da Fidene Unijuí, e o Padre Roque Lauschner, da Unisinos; o ex-presidente da Fecotrigo, Jarbas Pires Machado; o ex-ministro da Lavradio e doutor em Ciências da Instrução, Roberto Rodrigues, e o professor e palestrante José Luiz Tejon.
Fecotrigo
Ayrton Kanitz foi um dos grandes editores do O Interno. Foi professor universitário, jornalista e perito em assuntos do campo desde a sua puerícia em Ibirubá. Ele conta que, em 1990, o jornal acabou sendo formalmente assumido pela Fecotrigo, maior representação política do sistema cooperativista “trigo & soja” gaúcho, e editado pela Funcoop (Instauração de Desenvolvimento Cultural), criada para abraçá-lo. “Assegurava seu papel, agora uma vez que porta-voz solene do segmento, com recta a retirar as orelhas de quem tentasse se impor uma vez que pensamento único do estado”, diz.
Os jornais gaúchos quase sempre valorizaram os assuntos agropecuários, mas O Interno teve um papel importante para que eles incrementassem a sua cobertura da extensão, ampliando-a para cooperativismo, cultura familiar, meio envolvente, entre outros.
José Antônio Simch da Silva, jornalista formado na PUCRS, trabalhou em São Paulo durante dez anos e voltou para fazer secção da equipe do Quotidiano do Sul. O projeto jornalístico, infelizmente, não durou muito tempo. “Mas, no decurso de poucos anos, fui chamado a me incorporar à equipe de O Interno, da Fecotrigo”, relembra.
“O trabalho e a convívio com temas ligados a produção agrícola do estado não somente me trouxeram novos horizontes – horizontes rurais – uma vez que reforçaram laços com a história do RS. Por fim, por estas bandas sulinas, o mundo da produção primária sempre se mesclou à política, à cultura e ao modo gaúcho de ser”, conta José Antônio.
“À pecuária extensiva, que havia caracterizado por décadas o perfil produtivo do estado, juntou-se a prestígio da produção agrícola, e em peculiar a de pequenas e médias propriedades – a cultura de base familiar. Um segmento que, pode-se proferir, ganhou uma vitrine específica e uma larga e justa representatividade com o nosso pequeno-grande jornal O Interno”, relata.
Sob o comando de Sílvio Peter, e ao lado de jornalistas uma vez que o editor Moisés Mendes, Irineu Guarnier, Neide Zys, Verene Volke, Celso Bevilacqua, André Pereira, Edson Lemos, Emílio Pedroso (além dos cartunistas Santiago e Edgar Vasques) e tantos outros, José Antônio teve aulas práticas de jornalismo rústico. E, em peculiar, voltado aos interesses dos pequenos agricultores e de suas famílias rurais.
“Sem excesso, posso proferir que durante os anos em que ali trabalhei, acumulei não somente mais experiência profissional e humana, mas agreguei um novo olhar – mais próximo e real – sobre as dificuldades e o grande valor dos produtores rurais, em peculiar dos que encaram a labuta diária com as próprias mãos”, afirma.
O fotógrafo Emílio Pedroso, com passagem pela Zero Hora, também teve um papel de destaque na história de O Interno. Ele entrou no jornal no dia 1º de outubro, antes da primeira edição. Foi arquivista, laboratorista, trabalhou na circulação, uma vez que facilitar de escritório e fotógrafo. Aprendeu muito com “tio Miro”, o fotógrafo Valdomiro Soares, que tanta história fez nos jornais de Porto Satisfeito. “Devo secção da minha curso ao Valdomiro, ele foi decisivo em muitas das minhas opções a partir de O Interno”, afirma.
Natividade: BdF Rio Grande do Sul
Edição: Vivian Virissimo