“Ver o rosto de uma pessoa por trás de um pouco tão cruel é, sem incerteza, um pouco que mexe muito comigo.” A frase é da deputada estadual Bruna Rodrigues (PCdoB), em entrevista coletiva na tarde desta quinta-feira (14), na qual anunciou a prisão de um dos suspeitos por trás de ameaças de morte e estupro contra ela e sua filha, denunciadas há muro de um mês. Ainda sem nome divulgado, o tipo, de 36 anos, foi impedido em Jundiaí (SP), em operação realizada pela Polícia Social do Rio Grande do Sul.
Em outubro, Bruna relatou que os ataques, recebidos por e-mail, eram acompanhados de críticas ao seu procuração e atuação parlamentar, além de tentar minar sua presença política em resguardo de grupos marginalizados. “Sua macaca esquerdista maldita, vou estuprar…”, dizia uma das mensagens. Segundo a deputada, “há pouco mais de um mês, recebi um e-mail dizendo que matariam a minha filha. O texto do e-mail é o mais cruel que eu já recebi, ao mesmo tempo que reflete a escalada da violência que vou sentindo ao longo dessa chegada ao Parlamento”. Logo depois ler as ameaças, a deputada registrou um boletim de ocorrência.
Investigado pela Polícia Federalista há cinco anos, o suspeito é denunciado de cometer diversos crimes de ódio, incluindo ameaças de morte, violência sexual e a disseminação de mensagens racistas e extremistas. Conforme os agentes, o varão, integrante de um grupo de extrema-direita da deep web, utilizava um serviço de e-mail (se apropriando de dados de pessoas comuns) com sede baseada na Suíça, a qual não possui conciliação de cooperação com as autoridades brasileiras.
Durante a ação, foram apreendidos um computador de mesa, um notebook, dois tablets, dois celulares, diversos pen drives e outros itens. Segundo a polícia, esse material será analisado para identificar verosímil envolvimento de terceiros nos delitos. Até o momento, foram encontradas ameaças de atentados com explosivos (bombas) direcionadas ao Supremo Tribunal Federalista (STF), ao Congresso Pátrio e ao Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (MASP).
Em um e-mail endereçado a Alexandre de Moraes, o hacker ameaçava realizar um ato terrorista. “Iremos explodir o STF com todos dentro. Oriente é o aviso de um grupo de brasileiros, patriotas, que não irão admitir o golpe. Temos aproximadamente 20 kg de explosivo PETN e estamos prontos e instruídos a usar. Espero que vocês estejam preparados para recolher pedaços de corpos, principalmente negros, nordestinos e homossexuais”, escreveu.
Para Bruna, que se emocionou ao relembrar os ataques sofridos, o maior “gargalo” nestes casos é a integridade de sua filha. “Minha filha é ameaçada por conta da minha atividade parlamentar e só eu tenho a segurança da minha atividade parlamentar garantida, né”, pontuou. Segundo a deputada, se a proteção oferecida pelo Estado não abranger, além dela, seu procuração e sua família, ela se torna irregularidade. A parlamentar ressaltou que essa situação é uma das razões pelas quais muitas mulheres desistem da política.
A deputada, que solicitou à Parlamento Legislativa uma medida de segurança, defendeu a geração de um protocolo mais eficiente e simples, que ofereça condições adequadas para que os parlamentares possam treinar suas funções. Conforme ela, atualmente não há orientações diretas sobre o que fazer caso recebam ameaças ou enfrentem situações de risco, o que torna a proteção insuficiente.
Ao falar sobre a explosão que ocorreu no STF ontem, Bruna afirmou que o incidente é um revérbero de uma vaga de ódio crescente no Brasil. “É óbvio que seria leviano falar de correlações, mas é inegável que há uma escalada de violência no país e que, se essa escalada seguir sendo permitida, podemos vivenciar um cenário trágico”, disse, e complementou: “Ver um rosto, ver uma pessoa disposta a morrer por conta de uma política de ódio é terrificante”.
Manadeira: BdF Rio Grande do Sul
Edição: Sul 21