As comunidades indígenas Avá-Guarani que vivem na região oeste do Paraná têm relatado um aumento de ameaças e ataques violentos promovidos por agricultores e fazendeiros locais. De harmonia com uma liderança Avá-Guarani, que preferiu não ser identificada devido a riscos de represálias, os conflitos têm se intensificado com a resistência dos fazendeiros à presença das comunidades.
“Estamos sendo massacrados e as ameaças continuam. Fecharam as entradas e não querem furar chegada. Não temos esteio de sustento, lona para moradias e sequer esteio da Funai. É um momento muito difícil e estamos preocupados”, relatou a liderança.
As comunidades Avá-Guarani estão distribuídas em 14 aldeias, conhecidas porquê tekohas, que integram a Terreno Indígena Guasu Guavirá, e outras 10 aldeias que formam a Terreno Indígena Tekoha Guasu Okoy Jakutinga, situadas às margens do rio Paraná e de seus afluentes.
Em julho, as comunidades iniciaram um movimento de expansão das aldeias e retomada de áreas dentro da TI Tekoha Guasu Guavirá, delimitada pela Funai (Instalação Vernáculo dos Povos Indígenas) em 2018, depois um longo processo de luta. A terreno abrange os municípios de Guaíra, Terreno Roxa e Altônia, mas muitos trechos atualmente estão ocupados por fazendas. Segundo um levantamento do Parágrafo 2, 165 produtores rurais dessas localidades possuem muro de 24 milénio hectares dentro da TI.
A região tem registrado uma escalada de violência contra os Avá-Guarani em resposta a essas retomadas, com episódios de ataques a tiros, fogos de artifício e incêndios, resultando em dezenas de feridos.
“É grave o que acontece no Paraná com as comunidades indígenas de Guaíra e Terreno Roxa. Os ataques vêm acontecendo diariamente nas retomadas, organizados pelo movimento Invasão Zero, um grupo muito poderoso de grileiros, fazendeiros e milicianos que bancam esses grupos para fazer ataques contra as comunidades indígenas. Qual é a situação? Não é um conflito, é um massacre”, destacou Eloy Nhamdewa, liderança indígena.
As comunidades Avá-Guarani continuam confinadas em pequenas áreas cercadas por monoculturas, enfrentando problemas de saneamento, falta de chegada à chuva e insuficiência de espaço para manter seu modo de vida tradicional. A Rancho Luzente, em Terreno Roxa, tem sido um dos focos de violência, onde muro de 22 famílias montaram acampamento em julho, reivindicando 25% de uma espaço de 530 hectares.
Terras Indígenas do Oeste do Paraná
As Terras Indígenas do oeste do Paraná, segmento do território tradicional dos Avá-Guarani que não foi submerso pelo reservatório da Usina Hidrelétrica de Itaipu, enfrentam há décadas os efeitos da construção da usina. Durante a ditadura militar, os guaranis foram expulsos para a construção da hidrelétrica, com áreas sagradas sendo alagadas. Grande segmento dos territórios indígenas foi inundada.
“As pessoas falam que nós somos invasores, mas não estamos invadindo, somente retomando o lugar onde nossos ascendentes viveram e morreram”, explicou uma liderança, que não será identificada na reportagem por questões de segurança. “Na retomada da Rancho Luzente, vamos edificar moradias e queremos permanecer no território enquanto a Itaipu não resolver. O ideal seria a Itaipu comprar esse lugar e dar uma segurança para as comunidades indígenas”, acrescentou.
“A gente pressiona a empresa para realizar essa reparação histórica ao povo Avá-Guarani. Precisamos que a empresa se movimente para prometer uma espaço que não tenha essas ameaças e violências”, diz.
Até o momento, nenhuma das terras Avá-Guarani foi demarcada, e as comunidades seguem lutando pelo reconhecimento dos direitos territoriais e por reparação pelos danos causados pela construção da usina. A Itaipu, em nota, comprometeu-se a finalizar a compra de áreas para as comunidades e a prometer a infraestrutura necessária para a ocupação dessas terras.
De harmonia com a empresa, a quantidade da espaço não é aleatória, mas definida a partir de pedidos anteriores dos grupos que reivindicam terras. “Usamos porquê referência documentos do montão da usina, em que constam cartas de lideranças indígenas indicando o número porquê o devido pela Itaipu aos povos originários da região do reservatório”, explicou o diretor jurídico da Usina, Luiz Fernando Delazari.
No momento a Funai, Incra e Ministérios dos Povos Indígenas estão conversando diretamente com a Itaipu Binacional para identificar as áreas e as comunidades interessadas para que a empresa possa fazer a obtenção, conforme orientação desses órgãos federais.
Hamilton Serighelli, do Parecer Estadual dos Direitos Humanos, afirma que a Funai tem um prazo estabelecido, até esta sexta-feira (16) para a definição do território que será adquirido pela Itaipu.
“A Itaipu tem que fazer uma proposta viável que resolva esse problema de território. O confronto entre os agricultores e os indígenas não é uma solução”, destacou Serighelli.
Governo estadual piora clima de ameaças
A situação das comunidades Avá-Guarani foi agravada pelas declarações do governador do Paraná, Ratinho Junior (PSD), que criticou a lentidão do governo federalista para executar reintegrações de posse determinadas pela Justiça Federalista. O governador declarou que, se a União não agir, o governo estadual tomará as providências necessárias para vagar as áreas em retomada.
“O que acontece na fronteira é que a reintegração é de cultura da Polícia Federalista. Mas deixei evidente ontem ao governo que, se eles não fizerem as reintegrações, o Estado vai ser obrigado a entrar na Justiça Federalista para ter o recta de fazer a reintegração de posse. Porque nós não vamos permitir que índios paraguaios invadam terras privadas cá no Paraná”, afirmou ele, durante entrevista à prelo no dia 30 de julho, no Palácio Iguaçu.
As declarações de Ratinho se referem a pedidos de reintegração de posse que foram expedidos a partir de 19/07 e determinam a expulsão das comunidades Avá-Guarani das áreas em retomada nas cidades de Guaíra e Terreno Roxa. As decisões judiciais afetam muro de 550 pessoas, entre crianças, mulheres e idosos do povo Avá-Guarani. As retomadas ocorreram em áreas já reconhecidas porquê tradicionalmente indígenas, e aguardam a desfecho do processo de demarcação.
Nascente: BdF Paraná
Edição: Pedro Carrano
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