Os candidatos à Prefeitura de São Paulo protagonizaram o rebaixamento no nível do debate, em evento desta quarta-feira (14), realizado pelo Estadão, Terreno e a FAAP, para além do que já havia sido presenciado no debate da Band, na semana passada.
Esse é o primeiro debate em que Marina Helena (Novo) participa. A candidata não foi convidada para o evento anterior. Em sua estreia, Helena utilizou a estratégia de Pablo Marçal ao propagar desinformação e pedir para os eleitores fazerem o “M de Marina”, uma vez que Marçal pede pelo “M de Marçal”.
A candidata falou em temas batidos para a direita, uma vez que “ideologia de gênero”, escora da esquerda ao grupo terrorista Hamas, “comunismo” e pedir o impeachment do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federalista (STF).
Ela também apostou em desinformação ao falar que a Prefeitura de São Paulo disponibiliza tratamento hormonal nas escolas para crianças trans. “Não tenho zero contra opção sexual dos adultos, mas deixem as crianças de fora disso. A prefeitura atual está enxurro dessas loucuras da esquerda. A gente vai dar, de indumentária, uma segunda chance para esse prefeito?”, afirmou em referência a Ricardo Nunes (MDB), que concorre à reeleição. Logo posteriormente a fala de Marina Helena, a assessoria de Nunes desmentiu a informação.
“Chega das nossas crianças aprendendo ideologia de gênero, a ser comunista. O que a gente quer fazer são as melhores escolas. Educar as nossas crianças para se darem muito no mercado de trabalho”, disse Marina Helena.
Pablo Marçal (PRTB) também contribuiu para o apequenamento do debate ao abraçar os ataques a outros candidatos e inflar assuntos que beiram o tragicômico e esvaziados de propostas para a população paulistana.
Ao ser questionado no tema da ensino, Marçal disse que é “o professor mais muito pago do Brasil” ao falar do seu trabalho uma vez que coach e que é “desportista” ao falar da Cracolândia, sob risadas da plateia. “A gente vai treinar os professores. A gente precisa investir, na primeira puerícia, na identidade esportiva. Na Cracolândia, você não vai encontrar nenhum esportista. Eu sou desportista.”
Embate entre Marçal e Boulos
Seus ataques foram fortemente direcionados ao candidato Guilherme Boulos, do Psol. Marçal chamou o candidato da esquerda de “aspirador de pó”, “rebaixado”, “vagabundo” e apoiador do “Hamas”.
Em determinado momento, o coach chegou a tirar uma carteira de trabalho do paletó e mostrar em direção a Boulos, escalando o clima de agressividade entre ambos. “Se eu sou o Padre Kelmon, eu vou exorcizar o capeta com a carteira de trabalho. Você nunca vai ser prefeito enquanto tiver varão nessa cidade”, afirmou.
Em reação, Boulos tentou arrancar por três vezes a carteira de trabalho da mão de Marçal. Toda a ação foi gravada pela equipe do candidato do PRTB, que, apesar de ter assinado um contrato elaborado pela organização do evento com regras proibitivas sobre gravações durante o debate, estava a postos para filmar todo e qualquer movimento de Marçal.
A equipe também descumpriu outra regra ao colocar um segurança de Marçal na segmento de trás do palco. Da mesma forma, o candidato quebrou a preceito da organização de não subir com documentos na extensão do debate, o que foi questionado pelas assessorias de outros candidatos.
Depois o debate, Boulos disse à prelo que “ninguém tem sangue de barata” ao mourejar com um candidato uma vez que o Marçal.
No final, ambos voltaram a protagonizar mais um embate. “Você é um mentiroso compulsivo. Você é viciado em mentir. Você é o Padre Kelmon dessa eleição. Não proveito verba enganando as pessoas na internet. Até ser deputado federalista, coisa que você tentou e não conseguiu. Eu era professor”, referiu-se Boulos ao rival. “Eu fico na incerteza se você é só mau-caráter ou psicopata. Você vem cá para lacrar para a cidade de São Paulo.”
O comportamento de Marçal foi criticado por todos os outros candidatos, menos por Marina Helena. Mesmo o prefeito Ricardo Nunes (MDB) falou sobre “essa coisa de permanecer fazendo recorte para as redes sociais”. “Isso cá não é o play center, a gente tem muita responsabilidade.”
Pouca proposta, muito delírio
Sobre propostas para a cidade, pouca coisa foi dita. Uma das medidas de Marçal é erigir “o maior prédio do mundo para provar que a construção social vai ser liderada pela cidade de São Paulo”, uma vez que disse na ocasião.
O apresentador José Luiz Datena (PSDB) disse que seu objetivo, se eleito, é “entregar a muchacho aos pais sabendo ler e grafar com oito anos de idade”. Ele também falou em utilizar a Guarda Social Metropolitana (GCM) e a Polícia Militar para fazer da escola a “extensão” do envolvente familiar quando se fala em segurança.
“Muta crianças vão para a escola para poder consumir. A muchacho precisa ser recebida na escola uma vez que se fosse uma extensão do envolvente familiar. Segurança com rondas da GCM, também da PM. Escola segura fora e dentro. Com professores felizes e muito pagos. O país que joga fora o estudo, joga fora o seu horizonte”, disse Datena.
A candidata Tabata Amaral (PSB), por sua vez, falou na implementação da Lei 10.639 ao ser questionada sobre o tema. A norma estabelece as diretrizes para incluir no currículo solene da rede de ensino a obrigatoriedade da disciplina “História e Cultura Afro-Brasileira”.
“Sou uma das autoras da ampliação das leis de cotas. Mais de 40% das pessoas que coordenaram o meu projecto são negras. A gente precisa ir além do oração. A gente deve prosseguir na ensino antirracista dentro do ensino fundamental. Mas a gente vai além. O meu compromisso é com 100% da alfabetização das crianças e ensino integral”, prometeu a candidata.
Boulos falou em ensino em tempo integral e mutirão educacional para jovens e adultos que não passaram pela alfabetização. “Nós vamos fazer um programa de ensino integral com reforço escolar. Depois da pandemia, não houve reforço escolar. Vamos fazer o mutirão Paulo Freire para jovens e adultos fora da escola para não deixar ninguém para trás”, comprometeu-se o psolista.
“Nós vamos fazer um programa ousado de valorização salarial, projecto de curso, qualificação permanente, dialogando com as universidades, e revogar o confisco de 14% que Nunes fez. Hoje nós temos muitas crianças com o transtorno do espectro autista, com deficiências e, por isso, vamos contratar mais profissionais para cuidar da ensino inclusiva.”
Nunes, por sua vez, deixou de apresentar as propostas para um eventual segundo procuração e focou nas medidas já realizadas pela atual gestão. “Nós estamos fazendo o maior programa de recapeamento da história de São Paulo. Estamos fazendo a ampliação dos equipamentos de saúde. Nós colocamos a periferia no planta da cidade”, disse o atual prefeito.
Edição: Martina Medina
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