As armas de plástico com balas feitas de gel se tornaram uma febre nas periferias brasileiras, em que adolescentes e até crianças simulam guerras com o resultado, que imita armas de incêndio.
As batalhas são estimuladas por influenciadores digitais, caso do “comandante de Cabo Insensível”, no Rio, o influenciador Maicon Douglas Mendonça Cereja. ”A gente começou a ver que estava virando uma tendência na internet e começou a gostar da adrenalina. Aí uma vez que a rapaziada é muito unida, a gente foi, gostou, se juntou e começou a distrair também.”
O “comandante de Rio das Ostras”, o também influenciador Arnaldo Carelli, faz doações das armas para seguidores. “A gente volta a ser rapaz. Meus seguidores são apaixonados nas arminhas”, ele conta.
Publicidade
A novidade febre, que se expande nas periferias brasileiras, é um fenômeno global, com batalhas nos Estados Unidos, na Europa e na Ásia. Mas as arminhas de plástico podem ocasionar hematomas e até cegar, caso atinjam os olhos.
As armas de gel, que se tornaram comuns no mercado vernáculo, não são considerados brinquedos. São produtos destinados ao público adulto, ou seja, pessoas supra dos 14 anos. Crianças não devem portar ou usar esse resultado”, afirma Marcelo Monteiro, coordenador executivo e de gestão da diretoria de avaliação da conformidade do Inmetro.
Segundo Monteiro, um brinquedo, para que possa ser definido uma vez que tal e ser liberado para crianças, passa por diversos testes de segurança.
“Deve ter algumas características no objeto para provar que não é uma arma de verdade ou um simulacro. Um deles é a ponta laranja, indicando que não é uma arma. Só que o das armas de gel é destacável. O projétil dessa arma sai em uma velocidade muito maior do que a norma estabelece”, ele reforça.
As armas têm causado uma série de preocupações para a segurança pública.
“Imagina uma pessoa, um cidadão, andando pela rua à noite, vendo de repente um grupo de pessoas correndo, às vezes até com uniformes, brincando, simulando essas batalhas de gel com armamentos longos, e a pessoa tem que detectar se aquilo é um armamento real, se é uma gaudério ou não. E pensa no policial, que na verdade que nós temos do Rio de Janeiro, se depara com alguém com alguma coisa semelhante a uma arma. Ele tem pouco tempo ali para poder identificar se aquela arma é real, se ela vai ser apontada ou se ela vai ser disparada. E a gente pode ter um incidente infeliz”, diz a tenente-coronel Cláudia Morais, coordenadora de Notícia Social e porta-voz da PM/RJ.
No final de setembro, em uma das batalhas no Multíplice da Maré, no Rio, um grupo de jovens abordou um caminhão da companhia de limpeza urbana, subiu na caçamba desse caminhão, e o motorista ficou muito assustado e eles foram alguns correndo na lateral.
No mesmo dia, no Rock in Rio, Mc Cabelinho e Mc Veigh subiram ao palco com as armas de gel na mão.
Em São Paulo, a PM divulgou um alerta depois que uma guerra acabou em confusão, no Jardim São Luis, na Zona Sul. Um varão que estava em uma tabacaria foi atingido no olho, segundo a polícia.
A guerra foi organizada por Luan Muniz, de 25 anos, e seus amigos. Dezoito pessoas foram levadas para a delegacia.
“Falaram que a gente estava atirando em todo mundo, fazendo vandalismo, mas isso aí foi moca. Eu não acho que essas batalhas estimulam a violência, mas nessa noite terminou em confusão, infelizmente”, argumentou Luan.
Em bairros da periferia da capital paulista, uma vez que a Brasilândia, a febre foi adaptada. Sem moeda para os novos modelos dos equipamentos, jovens e crianças improvisam: o plástico das armas dá lugar a canos de PVC, e as balas de gel são trocadas por grãos de feijoeiro.
O professor da FGV Rafael Alcadipani, profissional na dimensão de segurança pública, alerta que a gaudério pode se tornar um violação. “Perturbação do sossego é uma contravenção penal, a lesão corporal é um violação, logo a gaudério pode suceder desde que ela não gere dano a terceiros e ela não gere nenhuma confusão no espaço público”.
Manadeira/Créditos: g1
Créditos (Imagem de toga): Divulgação
Discussion about this post