A Lar da Cultura Afro-brasileira, sede da Instauração Cultural Palmares (FCP), em Brasília (DF), foi palco do lançamento da Campanha Tradições de Matriz Africana Contra o Racismo, nesta terça-feira (12).
Na fenda do ato foi lido um manifesto em repúdio aos ataques racistas às manifestações culturais e territórios tradicionais de matriz africana. Durante o evento foram relatadas denúncias de agressões verbais a pessoas ligadas às religiões de matriz africana e a terreiros.
O objetivo da ação, que tem caráter permanente, é invocar atenção para a valimento das expressões culturais uma vez que pilares de identidade, autoestima e ancestralidade para o povo preto no Brasil, que enfrenta crescentes violações de direitos contra os seus territórios tradicionais.
A iniciativa foi do Pontão de Cultura Ancestralidade Africana no Brasil, de Ribeirão Preto (SP), uma vez que segmento da Campanha Cultura Negra Viva, que comemora o mês da Consciência Negra.
A deputada federalista Reginete Prelado (PT-RS), relatora do Projeto de Lei 3.268/21 que deu origem ao feriado de 20 de novembro, esteve presente ao encontro, além de representantes do Instituto do Patrimônio Histórico Artístico Pátrio (Iphan), do Movimento Preto Unificado (MNU) e do Ministério da Paridade Racial (MIR).
O Cultura Ancestralidade Africana no Brasil é um dos Pontões de Cultura selecionados no Edital n.º 09/2023 para desenvolver um projeto cultural por 12 meses. Realiza ações de fala e mobilização da rede, formação e capacitação, seleção de agentes Cultura Viva, e o mapeamento dos territórios tradicionais de matriz africana e suas iniciativas culturais.
Além da entidade proponente, o Meio Cultural Orunmilá, esse pontão tem um comitê gestor formado por sete Pontos de Cultura das cinco regiões do Brasil, que são referência da Política Pátrio da Cultura Viva e no segmento de Matriz Africana.
O evento, bem pela Instauração Palmares com a cessão do espaço, reuniu grupos culturais, lideranças das religiões de matriz africana, gestores culturais, artistas e ativistas dos direitos humanos de diversos estados. O presidente João Jorge Rodrigues, representou a Ministra da Cultura Margareth Menezes, e ressaltou a valimento da campanha e o papel do órgão na valorização e preservação dos bens da cultura afro brasileira.
Leandro Anton, coordenador de Pronunciação da Cultura Viva do Ministério da Cultura (MinC), lembrou o papel dos Pontões de Cultura para dar visibilidade e escora às redes culturais no país.
“Em uma democracia, o governo representa a sociedade social, mas sabemos que desigualdades ainda distorcem essa representação. Por isso, temos o compromisso de zelar pelas conquistas e progredir na construção de uma política pública uma vez que o Cultura Viva, que reconhece os direitos culturais e sociais de redes de pontos de cultura, valorizando suas trajetórias”, afirmou.
Segundo o Bábà Paulo Ifatide, coordenador universal do Pontão de Cultura Ancestralidade Africana no Brasil, oriente é o primeiro edital que aborda a cultura negra em si.
“Foram 500 anos trabalhando para nos destruir, e cá estamos, de pé, falando um linguagem que eles rejeitam, cantando em outro linguagem, com outra forma de viver, de vestir, de crer no mundo. Sempre optei por enfrentar essas questões pela cultura, mas sozinhos não temos o poder necessário para mudar tudo”, afirmou.
Combate às violências
De combinação com a Ouvidoria Pátrio dos Direitos Humanos, em 2021 foram registradas 583 denúncias de intolerância religiosa, sendo a maioria delas relatadas por praticantes de tradições de matriz africana. Em 2024, somente no primeiro semestre, esse número saltou para 1.940 denúncias, representando um aumento de 332% em quatro anos.
Silvany Euclênio, da equipe do Pontão de Cultura Ancestralidade Africana no Brasil, apresentou ao público os objetivos da campanha: valorizar as tradições de matriz africana uma vez que ferramentas de combate ao racismo; denunciar o racismo e a violência direcionados às tradições e aos praticantes de matriz africana; promover o engajamento da sociedade na resguardo das tradições de matriz africana, cultivando uma participação que não se limite ao repentino, mas que se fortaleça ao longo do tempo, uma vez que uma fluente viva de escora e resistência; fortalecer as lideranças tradicionais, instrumentalizando-as para que compreendam melhor o Estado, as políticas públicas e a natureza do racismo estrutural, para que possam proteger suas comunidades e territórios com mais poder e conhecimento.
“Essa campanha é colaborativa; queremos que todos e todas possam aderir e somar esforços. Nosso primeiro objetivo é valorizar as tradições de matriz africana uma vez que um instrumento fundamental no combate ao racismo. Essa é uma campanha permanente, pois o racismo é um problema contínuo, e nossa luta”, afirmou ela.
As entidades e pessoas interessadas em aderir à campanha podem cadastrar suas ações de combate ao racismo através do formulário no link da bio na página @ancestralidadeafricanabr e atuar na rede colaborativa através do site ancestralidadeafricana.org para receber conteúdos e modelos de cards de divulgação.
Natividade: BdF Região Federalista
Edição: Flávia Quirino