Ao longo deste ano, conversei com dezenas de estudantes sobre uma vez que gastam seu tempo dentro e fora da escola. Em um projeto da ONG Quero na Escola, que promove o protagonismo dos estudantes, alunos de seis escolas públicas tiveram uma atividade em que respondiam individualmente perguntas feitas por nós.
A soma das respostas forneceu um quadro de uma vez que se sentiam, incluindo o que gostariam de fazer com seu tempo livre e o que realmente fazem. Por estas respostas, podemos declarar: a graduação 6×1 é desumana também com os filhos e, principalmente, filhas dos trabalhadores.
Os grupos, de 30 estudantes em cada escola, eram de adolescentes de 13 a 16 anos. O que queriam fazer do seu tempo livre inclui jogar esfera, jogos online, ouvir música, traçar e, sim, senhoras e senhores: estudar. A maioria já pensa nas muitas horas que precisaria se destinar pra ter um bom horizonte profissional e se ressente do tempo que não tem. Um número grande de estudantes, no entanto, respondeu que, fora da escola, cuida da moradia, cuida de uma pessoa idosa, cuida dos caçulas e, não à toa, quando tem tempo livre, quer dormir e resfolgar. Adivinhação? Os responsáveis por estes adolescentes trabalham 6 dias por semana.
Leste não é o único ponto em que a graduação 6×1 prejudica os estudantes filhos de trabalhadores e, principalmente de novo, trabalhadoras. Há décadas que se sabe, a partir dos estudos de Pierre Bourdieu, que o sucesso acadêmico está diretamente ligado ao “capital cultural” que a família dos estudantes pode oferecer, incluindo passeios, conversas, leituras, filmes, reflexões e outras experiências que as pessoas com uma única folga na semana não podem oferecer, seja por exaustão, seja pelos problemas acumulados para resolver.
Tem mais: trabalhadores em graduação 6×1 não conseguem participar da vida escolar dos filhos. Em que momento vão saber os professores, compartilhar um pouco do seu universo e do que a escola poderia contribuir? Em que momento vão ter tempo para ler a redação com fôlego e incentivar o trajectória escolar? Às vezes, até saberia ajudar no projeto de mecânica, mas não tem tempo. Ou governanta cozinhar, mas não pode escoltar a experiência de levedação do pão, pois não está em moradia em seis dos sete dias da semana. Participar de reuniões e colaborar com a gestão democrática, logo, é coisa de quem não tem uma fardo de trabalho desumana.
A graduação 6×1 impacta diretamente os estudantes que precisariam destes adultos. Vítimas indiretas da falta de tempo dos sobrecarregados, têm desde a puerícia e a juventude mais responsabilidade e menos escora. Já denunciava Lélia Gonzalez, uma tamanho marginal subempregada, predominantemente negra, na luta pela sobrevivência, acaba dando menos chance educacional a suas crianças “porque, também elas, têm que ajudar na luta pela sobrevivência”. Adivinhação? Com menos oportunidades, aumentam as chances de precisarem um dia se sujeitar a um regime de trabalho que não permite lazer e estudo. A desigualdade na instrução, que se reflete no resto da vida, passa pela graduação 6×1.
*Cinthia Rodrigues é mãe de estudantes de escola pública, profissional em Ensino Social e mestranda em Ensino pela USP. Cofundadora da Quero na Escola, organização que promove o protagonismo estudantil, também autora do livro “21 histórias de estudantes que mudaram a escola”.
**Leste é um item de opinião e não necessariamente representa a risca editorial do Brasil do Indumentária
Edição: Thalita Pires