Às vésperas do segundo vez das eleições municipais, o deputado estadual Lúdio Cabral (PT), que disputava o segundo vez para a prefeitura de Cuiabá (MT), tornou pública suas convicções sobre as pautas ditas de “prática” e chocou uma segmento dos petistas e da base social do partido.
“Sou médico, fiz um juramento de proteger a vida, desde a concepção…, eu sou pai de 5 filhos, eu quero os meus filhos e os filhos de todas as famílias de Cuiabá protegidos contra a droga, portanto eu sou contra a liberação…, sou contra esse debate de ideologia de gênero nas escolas, linguagem neutra nas escolas (…), deixei isso simples ao meu partido, e aos partidos que me apoiam, a minha posição”, disse Lúdio, em seu programa eleitoral.
Depois a eleição, que terminou com um desempenho ruim do PT nas urnas, uma tampa foi invenção e a heterogeneidade de opiniões sobre os rumos do partido foram expostas publicamente. Vice-presidente da legenda, o deputado federalista Washington Quaquá (PT-RJ), eleito prefeito de Maricá (RJ), foi às redes sociais e disse que os petistas precisam “parar de errar”.
Para Quaquá, o PT não deveria ter bem Guilherme Boulos (Psol) na disputa pela prefeitura de São Paulo (SP). “Era a pessoa errada na cidade errada”. Em seguida, ele citou nomes posicionados mais ao núcleo, que em sua opinião deveriam ter merecido a atenção do partido. “Havia Márcio França (PSB), Tabata Amaral (PSB) e até a Ana Estela Haddad (PT), que nunca disputou eleição, mas poderia dialogar com uma fileira mais conservadora nas periferias e classe média.”
A ópera dos insatisfeitos, que pedem um PT mais ao núcleo, seguiu. Reeleita prefeita de Descrição (MG) com 61% dos votos, Marília Campos (PT) pediu que o partido “repense sua estratégia política e seu oração, que continua muito focado na polarização.”
O deputado federalista Jimar Tatto (PT-SP), que nunca escondeu sua ódio à candidatura de Boulos à prefeitura de São Paulo, defendeu uma confederação para longe da esquerda na eleição paulistana, em entrevista ao site Intercept.
“O Ricardo poderia, em vez de se alinhar mais à direita, fazer um movimento em direção à esquerda. Teríamos uma situação mais confortável hoje, com um prefeito do MDB que fosse coligado do [Luiz Inácio] Lula [da Silva (PT)]”, explicou Tatto, uma das lideranças do PT na capital paulista.
Reação
“Eu tenho opinião oposta a esses companheiros que depois a eleição de 2024 sinalizam com um PT mais ao núcleo. Em primeiro lugar, porque a eleição de 2024 mostra que o PT justamente tem que tensionar mais à esquerda. As eleições mais à esquerda deram resultados bons, porquê Natal (RN), São Paulo e Fortaleza (CE).”
A certeza supra é do ex-presidente do PT e uma das figuras mais importantes da história do partido, José Genoíno. “Noto que há muita gente do partido ensaiando esse passo e isso me preocupa. Eu vi várias declarações, porquê o candidato de Cuiabá [Lúdio Cabral], a Marília Campos, o Tatto, que chegou ao montão de tutelar escora ao Ricardo Nunes. Numa crise sistêmica, a esquerda tem que ser antissistema”, pede.
Gilmar Mauro, integrante da coordenação vernáculo do Movimento dos Trabalhadores Sem Terreno (MST), que sempre manteve uma relação próxima com o PT, não vê possibilidades de que o partido possa tanger uma instituição antissistema, porquê pede Genoíno.
“As esquerdas no universal, no pretérito, eram reconhecidas porquê antissistema. À medida que ganhamos quatro eleições nacionais, ela deixou de ser antissistema e se tornou segmento do sistema. Na cabeça da maioria do povo e até de setores de esquerda, perdeu-se essa possibilidade de mudança. No meu modo ver, a esquerda deveria discutir causas profundas que o mundo enfrenta, mas isso não aconteceu nas eleições desse ano e não tem ocorrido em outras. A esquerda tem se bem em discursos que não se sustentam, porquê empreendedorismo de esquerda, que é um engodo”, explica Mauro, para quem a esquerda precisará de novos instrumentos para contrapor a direita nas urnas e nas ruas.
“De forma universal e à esquerda, há uma crise, não exclusivamente no PT, mas em graduação internacional. Na minha perspectiva, são instrumentos produzidos em um tempo que não existe mais, era um tempo em que o desenvolvimento do capitalismo permitia ganhos à classe trabalhadora. Esse processo tem se modificado. Na atualidade, ao contrário de ter conquistas, estamos perdendo essas conquistas, o capital financeiro tem pressionado e disposto limites para os investimentos sociais em todo o planeta”, acredita o líder do MST.
Presidenta vernáculo do PT, a deputada federalista Gleisi Hoffman (PT-RS) defende que a legenda siga à esquerda na resguardo de suas pautas, mas que mova-se ao núcleo para disputar eleições.
“O PT é um partido de esquerda, com história, princípios programas de possante resguardo do povo brasílico. Isso não o impede de fazer alianças para disputar eleições e governar, foi o q fizemos em 2022, com a costura de uma frente ampla que, com a força de Lula, nos possibilitou lucrar novamente a presidência da República. E é isso que defendo q continuemos fazendo, ampliar nossas alianças sem nos descaracterizar. Já governamos cinco vezes nascente país, fazendo alianças, e o cerne da nossa política garantiu grande melhora na vida do povo brasílico”, explica Gleisi.
Pessimismo
Para o pesquisador político Rudá Ricci, a “tragédia está em curso”. “É inadmissível que numa plataforma de centro-esquerda se discuta uma política de austeridade, que é uma medida de direita. O Fernando Haddad está tentando fazer um conciliação interno para retirar o governo Lula para a direita”, crê.
Ainda de conciliação com Ricci, é o presidente Lula quem conduz o partido para longe da esquerda. “O PT tem quadros de esquerda, porquê o José Genoíno, o Valter Pomar, o Renato Freitas, a Natália Bonavides, que estão numa fala vernáculo, mas que não conseguem espaços no partido, porque o Lula não deixa. Não existe debate no PT, porque se tivesse o lulismo perderia, eu não tenho incerteza alguma.”
José Antonio Moroni, integrante do colegiado de gestão do Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc) e da Plataforma dos Movimentos Sociais por outro Sistema Político, é ainda mais pessimista.
“O PT, assim porquê os governos do PT, principalmente o governo federalista, já se deslocam para o núcleo e até a centro-direita faz qualquer tempo, abandonando bandeiras de luta da classe trabalhadora, movimento preto e da juventude periférica, a base que criou e sustentou o PT”, explica Moroni, que teme as consequências do deslocamento ideológico do partido.
“Isso é uma tragédia na disputa política, porque cria um vazio enorme de um partido com densidade social, que faça a disputa de um projeto de sociedade que não esteja alicerçado nos dogmas do capitalismo”, finaliza.
Gleisi Hoffmann insiste que “o PT faz alianças ao núcleo, mas continua sendo de esquerda”. Mas, “ainda que com essas alianças e mediações, o que é necessário”, continua a presidenta do PT, “não deixa de conduzir a realização de programas e projetos que tem por objetivo o desenvolvimento econômico e social, inclusivos e de soberania do país. O PT sempre viu e vê o Estado porquê indutor do desenvolvimento e do bem-estar das pessoas, do povo, porquê prioridade número um.”
Edição: Thalita Pires