“A gente precisa, agora, mais do que nunca, entender os impactos das nossas escolhas alimentares. Estamos em um momento que precisamos de uma mudança estrutural, da forma porquê a gente produz, distribui, e consome os mantimentos.” A asserção é da apresentadora e chef de cozinha Bela Gil, que esteve na Feira do Livro de Porto Jubiloso (RS), para uma conversa sobre Caminhos Sustentáveis, com mediação de Elaine Maritz.
Antes da mesa que debateu os caminhos necessários para democratizar a sustento saudável no Brasil, Bela deu uma coletiva de prelo na última quarta-feira (6) em que destacou a preço do trabalho desenvolvido pelos agricultores familiares.
“A gente, de uma certa maneira, se gaba que o Brasil é o celeiro do mundo, produzimos comida para fomentar o Brasil e podemos exportar. Mas, antes, a gente precisa olhar para dentro. Ainda temos oito milhões de brasileiros passando inópia. E quem coloca comida na mesa são os agricultores familiares, que detêm somente 30% das áreas, enquanto o agronegócio detêm 70% da extensão estratégica”, pontuou.
Conforme expôs Bela, a comida produzida pelo agronegócio é exportada para virar ração, insumo base de produtos ultraprocessados. “Não converte em comida na mesa. É muito importante que a gente enxergue não só quem está fazendo a comida, mas quem está produzindo a nossa comida. Logo, quando a gente enxergar a preço, e der valor para os agricultores familiares, é que a gente consegue prosseguir, a gente consegue iluminar um caminho para realmente voltar a tirar o Brasil do planta da inópia.”
Também destacou que o trabalho doméstico recai principalmente sobre as mulheres. Por motivo disso, é necessário que os governos criem políticas públicas para diminuir o fosso que isso gera nas oportunidades de trabalhos para elas, pontuou.
“É preciso reduzir, reconhecer, valorizar esse trabalho e redistribuir, não só dentro de lar, entre os homens e as mulheres, mas também para fora de lar, com o Estado apoiando, fazendo segmento desse trabalho. Criando mais restaurantes populares, mais creches. A gente precisa de mais pessoas cuidando das nossas crianças, alimentando as nossas crianças, nos alimentando, fazendo esses serviços básicos que são fundamentais para manutenção da vida.”
De contrato com ela, países desenvolvidos já tem uma política de zelo com o horário integral de creche, licença parental igualitária entre homens e mulheres. “Isso diminui a discriminação que existe na hora de um empregador dar um ocupação para uma mulher que é mãe.”
Bela pontua que o progressão está sendo feito no Brasil. “O Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Penúria (MDS) lançou uma política pátrio de cuidados e isso é um progressão enorme para a gente principiar a falar, olhar para quem cuida.”
A apresentadora também falou das mulheres que a inspiraram durante sua trajetória. “Querendo ou não a gente carrega uma legado histórica muito possante. Do meu lado tem uma legado escravocrata. A gente ainda precisa fazer mais para libertar e emancipar todas essas mulheres que foram completamente oprimidas e subjugadas na sociedade, colocadas à margem.”
“Sou muito inspirada por mulheres, no meu livro eu falo não só da minha avó, da minha mãe, das mulheres da minha família, mas mulheres inspiradoras. Tem mulheres maravilhosas que eu cito no livro que foram fundamentais para construção do meu pensamento crítico em relação a sustento. Porque é isso: se a gente quer comida boa no prato, alguém vai fazer essa comida e quem está fazendo essa comida precisa ser valorizada, reconhecida e remunerada”, complementa.
“O que a gente coloca no nosso prato hoje define o horizonte da humanidade”
Bela iniciou sua fala na Feira, ressaltando que comida saudável não é só aquela que faz muito para o nosso corpo físico, mental e místico, mas uma comida que respeite a natureza e valorize aquelas pessoas que produzem a nossa comida. “Isso é imprescindível para que a gente consiga atingir uma simetria com o planeta, com todos os seres vivos. A gente pode transformar o mundo pela nossa sustento. O que a gente coloca no nosso prato hoje define o horizonte da humanidade.”
Para ela, manducar é um ato político, uma vez que gera impactos que reverberam na sociedade. Mas frisa que isso acontece de vestimenta quando se tem escolha. “Se você escolhe, se você sabe que manducar um comida orgânico, agroecológico, que vem de um assentamento, é muito melhor para tudo e para todos, esse já é um grande passo, é um grande primórdio. Mas se você não tem recurso para comprar isso, se você não tem a oportunidade de fazer essa escolha, você não consegue usar a comida, a sustento, porquê uma instrumento política.”
Em sua avaliação a falta de oportunidade de escolha rege a população e faz com que a população se submeta a trabalhos precários, a admitir qualquer tipo de comida. “Eu falo da transformação que a comida traz na nossa vida e eu falo da oportunidade de escolha.”
Ela elencou cinco tipos de acessos que são fundamentais para tornar a sustento saudável democrática. Segundo Bela, o primeiro passo é o entrada ao conhecimento. “A informação é fundamental, mas só a informação não é suficiente. Você pode saber o que é melhor para você, o que é melhor para o meio envolvente, o que é melhor para o produtor, mas você não tem recursos para isso, zero feito. A gente precisa erigir uma ‘pontezinha’ para juntar essa vazio que existe entre o conhecimento e a prática. Ensino fomentar é fundamental, saber os impactos daquilo que a gente consome.”
O segundo é o entrada físico ao comida. “Muitas pessoas no nosso país hoje vivem em desertos ou pântanos alimentares. São aqueles lugares onde tem uma dificuldade muito grande de descobrir produtos in natureza, produtos que a pessoa tem que percorrer quilômetros para descobrir um pé de alface, para descobrir uma banana, uma fruta. Ao mesmo tempo, há uma oferta muito extensiva de produtos ultraprocessados.”
O terceiro entrada é o financeiro. “Você pode saber o que manducar, você pode descobrir o comida, mas se você não tem numerário para comprar, de zero é feito. A inópia, por exemplo, é um derivado da pobreza. As pessoas passam inópia porque não têm poder aquisitivo.“
O quarto entrada é a ferramentas e tecnologias. “Tem um projeto de política pública que foi fundamental para tirar muitas pessoas da inópia, o Programa Um Milhão de Cisternas Rurais (P1MC), que capta a chuva da chuva. A gente precisa entender todas as necessidades, ter um olhar mais macro, mais grande para toda essa questão da sustento, que tem impactos sociais, impactos nutricionais, impactos políticos muito fortes.”
O último entrada é ao tempo. “Você pode ter todos esses recursos que eu disse anteriormente, mas sem o tempo a gente não cozinha.”
Valorização do cozinhar
“O cozinhar faz segmento de um trabalho chamado trabalho doméstico. Trabalho doméstico não remunerado. É muito importante que a gente reconheça o cozinhar dentro desse contexto. Só assim, enxergando o cozinhar porquê trabalho doméstico, a gente vai entender que cozinhar dá trabalho. Porque a gente precisa planejar o que vai fazer, comprar, chegar em lar, trinchar, pungir… Esse trabalho precisa ser valorizado na nossa sociedade, porque senão a cultura, a própria cultura do cozinhar pode estar ameaçada”, pontuou.
Ao abordar a perda de espaço do arroz e feijoeiro no prato dos brasileiros, a apresentadora destacou a disputa que se tem da “comida de panela”, para o mercado dos ultraprocessados. “É uma disputa muito desleal a gente colocar na mesma balança o ultraprocessado e o prato de arroz e feijoeiro (..) Essa comida de verdade, a comida de panela, que eu paladar de invocar, é uma comida que requer trabalho e alguém tem que fazê-lo. A indústria alimentícia acabou entrando nesse lugar de, ‘ó, eu consigo resolver a sua vida toda cá. Você pode forrar o seu tempo’. Mas trazendo muitos malefícios. Sem instrução, sem conhecimento, sem suporte para que a gente consiga manter o cozinhar ativo nas nossas vidas, a gente sucumbe, a gente vai detrás do ultraprocessado, porque não tem jeito, ele é muito mais fácil.”
Conforme observou Bela, o arroz e feijoeiro estão saindo não só da mesa, porquê também do campo. “Estamos produzindo menos arroz e feijoeiro. Chegamos a ponto de ter que importar feijoeiro da Argentina. Precisamos de uma estrutura de base para conseguir manter o cozinhar vivo. O brasílio e a brasileira estão morrendo pela boca, infelizmente, ou por falta de comida, ou porque está consumindo produtos ultraprocessados em excesso.”
De contrato com estudo realizado por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP), da Fiocruz, da Universidade Federalista de São Paulo (Unifesp) e da Universidad de Santiago de Chile, o número de mortes prematuras (de 30 a 69 anos) associadas ao consumo de ultraprocessados no Brasil, são de 57 milénio mortes por ano.
Já em relação a instabilidade fomentar e nutricional grave no Brasil, recuou de 33,1 milhões em 2022 para 8,7 milhões em 2023, passando de 15,5% da população para 4,1%, uma queda de 11,4 pontos percentuais. Os dados de 2023 são do módulo Segurança Fomentar da Pesquisa Vernáculo por Modelo de Domicílios (PNAD) Contínua, divulgadas em abril deste ano.
“Esse é o grande paradoxo da nossa pátria hoje. É um genocídio soturno. E completamente silenciado. A gente perdeu a nossa autonomia e soberania fomentar e a gente precisa retomar isso desde o campo até o prato, passando por quem está fazendo a comida. O que a gente pode fazer para tornar a comida de panela uma verdade de todos? Aí entram políticas públicas, por exemplo, porquê restaurantes populares, cozinhas comunitárias, o Programa Vernáculo de Sustento Escolar.”
Para ela a a instrução fomentar nas escolas seria fundamental, não para que necessariamente todos cozinhassem, mas soubessem o que estão comendo. Ainda, de contrato com Bela, a questão da reeducação fomentar melhorou, mas ainda há preconceito em relação a ela, principalmente para as crianças.
“Se a gente puder fazer uma mudança estrutural, uma mudança onde cada vez mais pessoas possam mudar a sua sustento para melhor, a transformação vai ser mais rápida. Tudo muito consumir, se quiser, o ultraprocessado cá e ali, mas com consciência. Tudo muito, eu sei de tudo, vou manducar, mas se responsabilizando, tendo a oportunidade de se responsabilizar Porque a maior segmento das pessoas que consomem esses mantimentos estão alienadas dos efeitos e dos impactos para a sua saúde e para o planeta.”
Manadeira: BdF Rio Grande do Sul
Edição: Vivian Virissimo