Moradores do Conjunto de Favelas da Maré, na zona setentrião do Rio de Janeiro, têm sofrido com intensas operações policiais em 2024. De congraçamento com levantamento realizado pelo Instituto Queimação Cruzado, somente neste ano, 39 ações da polícia resultaram em tiroteios. Ao todo, 16 pessoas foram mortas e outras 11 ficaram feridas nas ações. O número revela ainda que as operações policiais na região foram mais frequentes. A cada quatro tiroteios ocorridos na Maré em 2024, três foram motivados por ações policiais.
Os números mostram ainda que a Maré é o bairro da região metropolitana com mais tiroteios durante ações ou operações da polícia. Segundo o instituto, entre os cinco bairros com mais tiroteios estão o conjunto de favelas com 39; Bangu com 17; o Itanhangá com 16; a Penha com 15 e Brás de Pina com 14. Para Carlos Nhanga, coordenador do Fogo Cruzado no Rio de Janeiro, os números preocupam por conta do efeito no cotidiano da população.
“Os dados mostram um padrão preocupante. Olhando a série histórica, vemos uma subida na participação da polícia nos tiroteios. E vemos também uma vez que a polícia hoje atua muito mais na Maré do que em outras localidades. Ou seja, aquela população que vive ali está convivendo com níveis de violência armada sem confrontação na região metropolitana hoje. Por quê? A população tem recta de saber qual o objetivo desta política de segurança que deixa crianças sem lição, fecha a UPA, interrompe o transporte público”, questiona o coordenador.
O levantamento sobre o impacto dos tiroteios na instrução mostra uma vez que a violência afeta os mais jovens. Em 2024, o Queimação Cruzado registrou 22 dias com tiroteios no entorno das escolas da Maré. Em 64% desses dias houve participação da polícia. Conforme o estudo feito pelo Ministério Público do Rio (MP-RJ), com base nos dados do Instituto Queimação Cruzado, a Maré é uma das áreas que registraram mais confrontos perto de unidades de ensino.
Por conta das recentes operações, as escolas públicas no conjunto de favelas estão há 15 dias totalidade ou parcialmente fechadas e somente na última terça-feira (3), ao menos 38 escolas suspenderam as aulas por conta da operação que ocorre na região. O documento do Ministério Público mostrou ainda que as escolas impactadas por tiroteios no entorno têm nota média no Índice de Desenvolvimento da Instrução Básica (Ideb) menor do que os colégios que ficam fora dessas regiões.
Nascente: BdF Rio de Janeiro
Edição: Jaqueline Deister
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