Certamente o estimado leitor já se deparou inúmeras vezes com os infelizes clichês que “político é tudo igual”, “futebol e política não se misturam” ou ainda que “futebol, política e religião não se discutem no Brasil”. Repetitivo expressar uma vez que tais clichês são funcionais à visão conservadora (e até reacionária) de povo “passivo” ou povo “palerma” sobre os brasileiros.
Assim uma vez que outros mais específicos e infelizmente também duradouros uma vez que “o esporte é saúde e tira as crianças das ruas e das drogas”. Porém, na prática, futebol e política estão muito articulados no cotidiano com as constantes trocas (ou sobreposições) de papéis sociais entre políticos, dirigentes, empresários e (ex) jogadores. Embora unicamente alguns elementos mais superficiais recebam maior repercussão midiática sobretudo em anos que coincidem Despensa do Mundo com eleições presidenciais (uma vez que 2014, 2018 e 2022), quando inclusive emergem “análises” muito superficiais do tipo: “estão transformando a política em ‘fla x flu'”, uma vez que que na pretensão que qualquer consenso racional pudesse ocultar qualquer conflito latente.
Em menor medida, nos anos em que coincidem Jogos Olímpicos com eleições municipais também surgem alguns elementos férteis a esse debate que neste breve texto buscarei unicamente mencionar sem espaço suficiente para examinar um a um de forma aprofundada.
A encetar por uma breve síntese na qual o papel do futebol e do esporte uma vez que um todo na sociedade e na política em três décadas e meia da Novidade República é de pouco ânimo. Apesar da garantia constitucional do esporte uma vez que recta universal, ele é um setor frágil nas disputas políticas, seja nas esferas municipal, estadual e federalista e, por consequência, nas prioridades orçamentárias e programáticas. Não somente renegado em governos, uma vez que em partidos políticos e outras organizações da sociedade social pouco parece possuir pronunciação entre esportistas, intelectuais e lideranças populares para sequer discutir problemas sociais em geral uma vez que premissa para tentar grafar propostas eleitorais sólidas.
Uma visão tão superficial quanto enganosa seria declarar que dos anos 90 para cá o esporte “influencia” a política por conta de Zico e Pelé terem pretérito pela Secretaria de Esporte no Governo Federalista (precedente do Ministério do Esporte) e diversos ex-jogadores de futebol daquela quadra terem disputado cargos eleitorais: Romário, Bebeto, Jardel, Marcelinho Carioca, goleiro Danrlei e até mesmo pelo mundo afora o mexicano Blanco, o paraguaio Chilavert ou o ucraniano Chevchenko.
Porém, a dinâmica política que levanto uma vez que hipótese é que ex-jogadores, principalmente de futebol embora também notório em outras modalidades, desempenham um papel simultâneo de personalização/despolitização ao aportarem às candidaturas seu “capital” carismático, sobretudo quando associado a carreiras esportivas vencedoras, e raramente alguma coisa mais suculento ou por outra.
Usando outros termos mais típicos de análises políticas mais sólidas, as candidaturas eleitorais de esportistas parecem trenar uma lógica dual: ora anti-sistema (“contra tudo que está aí”), ora em reprodução do próprio sistema. Não sendo coincidência que tais candidaturas são cada vez mais raras na centro-esquerda e sobretudo na esquerda radical, e por contraste se concentram numericamente em partidos de núcleo, direita e extrema direita. Por isso a menção inicial sobre os discursos vagos a reverência de esporte e política são tão funcionais pragmaticamente e convergentes ideologicamente entre si.
Daqui para frente concentrarei nesse texto a menção de casos de uma vez que a prática e a ideologia da extrema direita vem disputando e conquistando posições no esporte. Ou seja, em última instância estou falando de predominância cultural e ideológica em âmbitos da sociedade social uma vez que o futebol e o esporte. Não sou otimista com a hipótese que nesse contextura micro houvesse um refluxo do bolsonarismo tal qual no contextura macro desde o final de 2022 com sua roteiro eleitoral.
Por falar nessas intensas disputas discursivas, acrescento uma vez que reflexão que com frequência eles mobilizam uma dupla moral de conveniências: legitimam o próprio pedestal eleitoral uma vez que mera “liberdade de sentença” embora deslegitimam outros apoios sob o pretexto que “futebol e política não se misturam”.
Diante da introdução um pouco mais seguro ao longo de décadas nos primeiros parágrafos, proponho a mencionar algumas notas mais específicas para o ano de 2024. Para isso, resgato um termo que parece estar sumindo das análises políticas: cabo eleitoral. O que sugere ser uma tática de uma personalidade emprestar “capital” carismático a um candidato e indiretamente lhe ajudar e depois poder lhe cobrar uma troca de favores. E cá é preciso invocar as coisas pelo seu nome: o jogador Neymar Jr. é cabo eleitoral do bolsonarismo enquanto John Textor, CEO do Botafogo, é cabo eleitoral do trumpismo.
Sobre Neymar, é público seu pedestal uma vez que votante da direita e depois da extrema-direita desde as eleições de 2014. O que já era convergente ideologicamente (vide compartilharem os lemas “deus, pátria e família” assim uma vez que diversos outros jogadores) também veio a público nos últimos meses uma vez que funcional pragmaticamente, diante da informação que Neymar se beneficiaria uma vez que investidor com uma PEC de privatização de praias de Flávio Bolsonaro. Uma novidade iniciativa tão escandalosa quanto não-surpreendente pelo seu histórico de desrespeito à legislação ambiental e inúmeras atividades econômicas fora do contexto de sua curso esportiva em declínio.
Enquanto sobre Textor, é notório para quem acompanha o noticiário esportivo cotidiano, sua iniciativa nos últimos meses de “enfrentar o sistema” arcaico do futebol brasílio sob alegado que o clube que comprou é impedido de entender títulos esportivos expressivos. Já para quem não acompanha, é preciso ressaltar que, apesar do viés profissional que o termo “CEO” remete, para ocupar tal protagonismo é preciso uma requisito privilegiada de ser um empresário bilionário, ou seja, sendo no mínimo irônico e suspeito que alguém que tanto se beneficiou do “sistema” (econômico, político e/ou esportivo) quisesse de indumentária uma melhoria universal ao invés de favorecimento em pessoal. Inclusive pela requisito privilegiada de um varão branco rico (sobretudo se for “gringo”) puder levantar acusações impunemente sem provas e sem ter a devida cobrança que lhe caberia pelo campo midiático e pelo campo político.
Para isso, contratou uma consultoria “independente” para tentar provar através de Perceptibilidade Sintético que houve manipulação de resultados (aproveitando um tema com bastante repercussão midiática de um ano para cá) sob alegado de fraude deliberada no VAR e por sua vez na CBF. Pouco depois de examinar o caso Textor em meu texto anterior já citado, encontrei outro texto mais profundo sobre as notórias semelhanças entre Textor e Elon Musk (sobretudo em sua ofensiva contra Alexandre de Moraes do STF) o qual destaco um miga fundamental a seguir:
“É provável que o objetivo maior seja potencializar suas atividades econômicas, mas ambos perceberam que o ataque à soberania vernáculo (Musk) e a implosão do maquinação institucional vernáculo vigente e a suspeição a um elemento da cultura popular (Textor) facilita a realização desses interesses, sobretudo pela obtenção de pedestal na opinião pública. Musk, uma vez que “guardião da liberdade”, e Textor, uma vez que “protector da moralização da maior paixão vernáculo”, recorrem à desinformação (mistura acusações diferentes em um mesmo exposição) e contam com o viés de confirmação de pessoas que acreditam que: (i) o politicamente correto e os limites da liberdade de sentença favorecem a ruína dos seus valores comunitários em obséquio de uma agenda globalista/multicultural deletérios ao siso de pertencimento; (ii) que seus clubes e, portanto, eles mesmo estejam sendo deixado para trás em função de uma conspiração (privação relativa).”
Articulando os dois casos anteriores sobre Neymar e Textor, acrescento que eles convergem com o governo de Milei na Argentina ao usar o futebol para vários “fronts” da sua “guerra cultural” diária: para instalar o projeto de clube-empresa naquele país e coesionar um patriotismo de novo tipo reacionário. Vide ele também reivindicar que o projeto de clube-empresa ser supostamente positivo pela liberdade dos sócios de decidirem uma transição e a liberdade de investimentos uma vez que forma de restaurar a competitividade dos clubes argentinos em torneios continentais prejudicada pela prolongada crise econômica. Uma vez que ao buscar apoios de ex-jogadores (uma vez que Aguero, Tevez e Verón) que emergem uma vez que cabos eleitorais desse projeto.
Assim uma vez que também persegue os dirigentes esportivos uma vez que um tipo específico de “qualidade” tal qual faz com sindicalistas e outras lideranças populares. Vide também se aproximar do atual “capital” esportivo vencedor da seleção argentina (embora fica uma vez que hipótese intuitiva que se a situação dentro de campo fosse negativa a narrativa seria oposta de “maldita legado kirchnerista” uma vez que se houvesse preceito direta do futebol pela política). Na medida que serpente de seus eleitores terem o mesmo sacrifício diante da crise econômica do que os jogadores. Enquanto na recente Despensa América atuou em dois momentos e com dois recursos. Antes, viralizou uma postagem na qual todos os jogadores titulares seriam vencedores por jogarem em clubes-empresas europeus legitimando esse protótipo uma vez que o mais vencedor. E com isso oculta a verdade que a formação esportiva de todos foi em clubes associativos pela sua profunda função social além de esportiva.
E depois, se aproveitou do esquina discriminatório do volante Enzo Fernández contra jogadores franceses para ao mesmo tempo hostilizar as pautas identitárias progressistas (uma vez que gênero e raça) e trenar sua diplomacia agressiva contra o governo Macron.
Mesmo sem ser uma liderança que “futebolizou” ativamente sua candidatura ou seu governo, Milei parece estar atilado a cooptar para si o protagonismo dessas e outras disputas tão cotidianas e acirradas que partem do futebol nas redes sociais cônscio da recente “rivalidade” virtual entre argentinos e franceses depois a final da Despensa do Mundo de 2022 e sobretudo diante da frequente rivalidade entre argentinos e brasileiros e deploráveis atos racistas e xenofóbicos.
Por término, bolsonaristas, trumpistas e mileístas certamente convergem ideologias messiânicas ao levantarem acusações sem provas e mobilizarem soluções simplistas e destrutivas. Nisso, obscurantismo, negacionismo e terraplanismo se assemelham por partir de um elemento pitoresco uma vez que “isca”, através de uma prolongada resiliência a atraírem céticos ou curiosos ou revoltados para se tornarem apoiadores cada vez mais extremados para demandas primeiro anti-ciência e depois anti-política (ou mais precisamente anti-Estado com suas políticas sociais).
A resiliência está em que esse elemento pitoresco ao não ser prontamente rechaçado uma vez que contraditório pelo campo midiático ou pelo campo político, ganha tempo na expectativa de lucrar novas adesões pontuais de coadjuvantes que trabalham ativamente para normalizá-los e assim tal demanda ganha capilaridade. Em outros termos, não basta uma desfecho superficial que isso seja unicamente “loucura”, pois mesmo nessa loucura há um método de apostarem em cooptar para seu próprio campo político-ideológico um vago sentimento “anti-sistema” de eleitores e torcedores que inviabilizasse outras formas de organização popular emancipatória.
* Fábio Perina é formado em Ciências Sociais e Instrução Física (bacharel e licenciatura). Mestrado em Instrução Física. Recém ingressante no Doutorado em Instrução Física com ênfase em Sociologia do Esporte. Todos os cursos pela Universidade Estadual de Campinas
**Levante é um item de opinião. A visão do responsável não necessariamente expressa a risco editorial do Brasil de Indumentária.
Edição: Nathallia Fonseca
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